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A situação do Rio de Janeiro, uma abordagem sociológica.

Primeiramente, transcrevo uma carta que está sendo atribuída ao crime organizado:
À  saber, não há como , no momento, averiguar esta veracidade ( possivelmente nunca terá)...


"Reproduzida de forma integral:



CV, ADA E TCP: união dos partidos. RJ


Carta que está sendo reproduzida em todo bairro da PENHA.







Foi decretada pela união dos partidos CV, ADA E TCP. Todos os partidos que tenha respeito e lealdade, força, humildade e amor no coração e muita dignidade a favor de todas as comunidades, por favor se unam a nós.



Foi decretado pela união dos partidos, que quando tiver repressão de policia em qualquer favela fazendo covardia, derramando o sangue, todas as comunidades pegarão seus fuzis e atirarão em prédios, em carros importados e no que tem de mais rico e próximo de sua favela, saqueando lojas, empresas e mercados!

Foi decretado pela união dos partidos, que cada morador inocente pobre que a polícia matar, morrerá duas pessoas ricas.



Foi decretado pela união dos partidos, que cada integrante de partido que a policia matar, morrerá dói policias e seus familiares. Pela união das comunidades que se cansaram da covardia dos policiais e do sistema, porque são eles que trazem as drogas e as armas, o empresário financia e a policia facilita. Ficam os políticos roubando bilhões, matando muita gente só com a caneta. Depois quer mandar quem trás as droga e as armas para o partido vir aqui na comunidade e matar inocente. Pobre não dá lucro para a boca de fumo, quem compra as drogas são as classes média e os ricos."



Agora o comentário crítico:

Antes de mais nada, embora longo, pretendo ser o mais breve possível.

Os conflitos existentes no Rio de Janeiro deixam –nos claro o seguinte:

1º ) Que a politica da UPP é insuficiente para o combate a violência do RJ.

2º ) Que estes conflitos não representam benefício algum em direção a qualquer mudança social.

3º ) que os discursos veiculados na grande mídia só reforçam a "solução" historicamente adotada que, na verdade, agrava o problema.



Vamos as análises:

1º) A política da UPP, muito festejada pelos que estão no asfalto, não debela e nem desarticula a violência, haja vista que as entradas nas comunidades violentas, afora o episódio de hoje, sempre foram precedidas de anúncios governamentais, o que faziam com que os criminosos pudessem sair dos focos de repressão sem que houvesse prisão ou mesmo confrontos. Não que defenda os confrontos, mas esta tática revelou-se, na verdade, um deslocamento de violência para outras regiões ainda "não pacificadas". Não são poucos os relatos de associações de moradores que denunciam o abuso policial nas comunidades pacificadas, formalizando um padrão de vida às comunidades e sufocando o habitus vivendis dela (texto auxiliar a quem interessar). Além disso, não há contingente policial suficiente para ocuparmos todos os pontos de tensão desta cidade. E mais importante de tudo isso, não é através da tão somente repressão que nós poderemos resolver os problemas das comunidades. Sem escola, emprego digno, formação e oportunidades, ali será uma fonte de mão de obra barata e fácil para o crime.

2º ) Embora a carta dos "partidos" afirme o contrário. Os propósitos deliberados pela carta não estão, em hipótese alguma, coadunados com a prática politica estabelecida. A política do terror barato e simples não faz senão reforçar o discurso dos que querem manter as comunidades sobre intensa vigília e controle, o discurso do fortalecimento da polícia e do sentimento de guerra. É verdade sim, os maiores fornecedores das drogas e das armas NÃO ESTÃO NA FAVELA. Lá é o comércio varejista, e porque a política de repressão só se baseia na favela? De quem se compra as armas, se somente o ESTADO tem autorização para comprá-las? São perguntas que, quando começamos a responder, vemos o quão complicado é o problema. Portanto, se o objetivo do "partido" era denunciar a pobreza e a desigualdade social, o efeito destas práticas só contribuem para o contrário, reforçam a criminalização da pobreza e, reforçando a polícia, fortalecem o principal instrumento de manutenção da ordem excludente da sociedade brasileira.



3º) Segundo a rede globo de televisão "estamos em guerra contra o trafico de drogas". Que guerra é essa que só um lado morre? O nome disso é outro: extermínio. E criar este sentimento de guerra é dar a autorização para uma operação policial sem precedentes no RJ, e sabemos bem como a polícia age. Culpam, pois, o trafico de drogas e, por tabela, os usuários. É obvio que estes têm a sua parcela de responsabilidade, mas acreditar piamente neste discurso é cair na artimanha desejada pelas elites que, assim, desviam o foco principal e histórico do problema: a desigualdade social e a concentração de renda. E, assim, criam um novo alvo: o trafico de drogas que é, na verdade, uma faceta de como a desigualdade social pode se demonstrar violenta.

    Qual a solução do problema? Complexo! É a reforma agrária, a reforma tributária, uma melhor distribuição das riquezas, uma educação pública e de qualidade, empregos bem pagos e dignos. Preço muito caro para a nossa elite, eles lucram mais com a polícia , vendem jornais, vendem munições, vendem armas e, principalmente, mantém sob controle a miséria e os miseráveis. Para a elite, carros valem mais do que vida e, por cada carro incendiado ( a sagrada propriedade privada!) uma alma será velada. Em 2007, 17 foram mortos no mesmo lugar no Complexo do Alemão e, se algo mudou, foi pra pior( você ainda se lembra disso?).  Que venha 2014 e  2016, eu já comprei o meu colete a prova de balas: verde-amarelo-azul-e-branco.

Comentários

Anônimo disse…
A respeito da “carta dos partidos” os seguintes comentários:
1 – “Foi decretado” => por quem? Qual a representatividade, além da força, que esses “partidos” têm para decretar algo? E para quem obedecer? Isso é uma afronta de uma minoria à sociedade como um todo
2 – A denúncia feita não é novidade para ninguém. “Os empresários financiam e a polícia traz (armas e drogas)”. Entretanto, não interessa para a mídia nem para os detentores do “poder instituído” comentar esse “pequenos detalhe”.
A respeito da “análise” do blog, permito-me tecer os seguintes comentários:
Item 1 – “A política das UPP...” => a política de evitamento do confronto, talvez demonstre a tese do “a polícia traz”. Na verdade, a impressão que se tem, é que a nossa polícia, com honrosas exceções, são os “marginais de carteirinha”. Alegam seus “baixos salários” para justificarem a corrupção. Ora, ser policial é um trabalho como outro qualquer. E, se não estamos satisfeitos com o salário que nos pagam, em qualquer situação, procuramos outro emprego, onde possamos ganhar mais. Acontece que nossos policiais têm poder quase ilimitado: são arrogantes, são mal-educados e gostam dessa sensação de poder sobre a vida alheia. E com uma arma na mão. Assim, apesar dos “baixos salários”, ninguém quer deixar de ser policial. Onde mais essas pessoas teriam tanta “otoridade”?
Item 2 – Concordo parcialmente com a análise: é verdade que o comércio do morro é varejista e que as armas vêm de algum lugar. Provavelmente, tanto a entrega das drogas quanto a comercialização das armas, facilitada por algum “esquema” que envolva as autoridades instituídas. Há, entretanto, um outro fator que, a meu ver, fugiu da análise do analista: Qualquer analfabeto em economia sabe que a demanda cria a oferta e vice-versa. Sem uma, a outra definha. Então, o consumidor da droga é tão responsável pela criminalidade quanto o seu fornecedor.
Item 3 – Com a permissão do analista, vou discordar totalmente de suas afirmações. A “guerra sem precedentes” é necessária. Não se pode permitir que uma minoria imponha leis próprias à sociedade. Lutamos contra a ditadura militar porque era o que ela fazia. Qualquer grupo precisa de regras para sua subsistência. Na sociedade formal, essas regras são as leis, criadas por representantes da sociedade. Se as leis não forem cumpridas, não há necessidade de tê-las; se não são boas, esforcemo-nos por mudá-las. Como? Melhorando a qualidade de nosso voto. Não votando por interesses pessoais em pessoas que só se elegem por interesse pessoal. Claro que esse é um processo longo e demorado, que requer o aprimoramento do senso público do cidadão, o que passa pela educação.
Realmente, o problema é complexo. Mas com solução factível!
E a solução, está embasada nos quatro vértices: saúde, educação, emprego e segurança.
É um processo demorado, para as gerações futuras mas que, se não for iniciado logo, nunca teremos solução.
Entretanto, para a nossa geração, esses que aí estão autodenominando-se “defensores das comunidades” não se converterão. São cânceres e, como tal, devem ser extirpados, antes que provoquem a metástase total em nossa sociedade.
Acho que, se começarmos logo, dará tempo de assistirmos à Copa do Mundo em PAZ!
Carlos Lamarão

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